Quando o silêncio também dança
Para o escritor moçambicano Mia
Couto: “... todo o silêncio é música em estado de gravidez”. Opinião parecida
tem o premiado Grupo Dançaberta (Campinas/SP), que, na mais recente montagem,
resolveu investigar as inúmeras possibilidades do silêncio. Inclusive, é claro,
o silêncio que dança. O resultado da pesquisa foi batizado de Resvala em Silêncios, que estará em
cartaz quarta (9/8) e quinta (10/8), às 20h, no Teatro Metrópole, em Taubaté
(SP). A turnê também prevê a realização de uma oficina na cidade sobre o
processo de criação do espetáculo. Detalhe: todas as atividades são gratuitas.

O
ponto de partida do espetáculo nasceu de uma inquietação da diretora. Na época,
Júlia estava fascinada com a leitura de As
formas do silêncio, de Eni Puccelli Orland. “Não há silêncio na atualidade.
Isso só já era motivo suficiente para tratar desse assunto. Contudo, a partir
desse livro, tive a constatação que nos faltam calma e silêncio interior. O
ruído interno chega a ser maior do que o externo, principalmente quando
percebemos o corpo como soma (palavra grega que significa corpo total-físico,
mental e espiritual). A nossa prioridade passou ser a de encontrar um espaço de
tranquilidade no interior do nosso corpo, para assim aprendermos mais sobre nós
mesmos, e na relação com o outro e com o meio ambiente”, destaca a diretora.
A
partir do tema definido e lançado ao grupo, a criação da montagem tornou-se
coletiva. Para tanto, novas leituras foram propostas e os bailarinos foram
instigados a trazer para a sala de ensaios lembranças vivas de situações
pessoais em que o silêncio esteve presente. “Com esse material rico em
discussão, passamos a trabalhar com improvisos e já selecionar algumas cenas
que achávamos interessantes para a montagem. Aliás, no processo de criação do
Grupo Dançaberta, o intérprete tem um papel bastante ativo e importante na
construção do espetáculo”, conta a bailarina Ayumi Hanada.
Quem
assiste a Resvala em Silêncios,
percebe claramente as diversas formas que o silêncio ocupa e se apresenta no
cotidiano: ora opressor e constrangedor, ora meditativo e contemplativo. Ou,
até mesmo, o da morte. “Cada cena apresenta um sentido distinto do silêncio. Resolvemos
trabalhar com esses vários lados para, propositalmente, instigar a reflexão e a
percepção do público. Estamos mais interessados em perceber as sensações e os
sentidos que o silêncio provoca nas pessoas do que tratar simplesmente da
ausência do ruído. A questão é: ‘o que o silêncio me causa?’”, avalia.
Para
perceber e possibilitar o acesso aos sentidos, o espetáculo se vale de
diferentes movimentos dos bailarinos, numa mistura entre explosão e
recolhimento, tranquilidade e euforia. “Busquei procedimentos para preparação e
criação coreográfica que enfatizassem a atenção plena e ativa no momento
presente, conhecida por muitos praticantes como mindfulness. Aliado a esses procedimentos contamos com uma
preparação corporal específica desenvolvida por Fabricio Fernandes com a
técnica de Pilates”, explica Julia. Soma-se a eles a trilha sonora original
assinada por Marcelo Onofri, que, ao piano, em companhia de Eduardo Guimarães
(acordeom), reforça pela linha melódica os diferentes tratamentos dados ao
silêncio. Tudo isso distribuído em um espaço octogonal em que o público ocupa
as quatro pontas da cena.
O Grupo
Em atividades há 17 anos, sob a
direção da coreógrafa e docente Júlia Ziviani, o Dançaberta está vinculado ao
Departamento de Artes Corporais da Unicamp (Campinas/SP). Formado por graduados
e graduandos em Dança pela universidade, o grupo está focado na relação e na
aplicabilidade de conceitos e princípios da educação somática na interpretação
e na criação em dança. Destaque aos espetáculos Começar e Cutucar, vamos ver onde dá? (2009), Entre-meios (contemplado pelo ProAC Circulação, em 2011) e (Des)equilibrando Avessos (contemplado pelo ProAC Circulação, em 2016),
bem como a Escondeus (contemplado
pelo FICC, em 2013).
ESPETÁCULO
O quê: Resvala em Silêncios, do Grupo
Dançaberta
Quando: Quarta (9/8) e quinta
(10/8), às 20h
Onde: Teatro Metrópole
(Rua Duque de Caxias, 312, Centro, em Taubaté/SP)
Quanto: Entrada
franca
Informações: (12) 3624-8695
Classificação etária: 12 anos
Duração: 50 minutos
por Carla Tavares - mtb.7244/SP
#OJORNALGRANDEVALE
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